quinta-feira, fevereiro 3

Depende de como você vê.

Eu tinha feito o post dessa semana a respeito do poder das palavras, de como andamos nos esquecendo da educação básica diária, e como se poderia afetar algumas relações. Bom, acontece que nessa terça, aconteceu uma coisa comigo que eu queria muito dividir com vocês. E, de certa maneira, tem haver com o que eu havia escrito antes. Bom, aquele texto terá que ficar pra próxima coluna.

Como eu disse no primeiro post, eu faço História na Unifesp. Assim, minha ferramenta básica de “comunicação” é o texto. Cresci acreditando firmemente que tinha o “dom” da palavra, que sabia escrever como ninguém. De fato, eu gostava muito de fazer narrativas. Até que cheguei na faculdade e logo no primeiro trabalho, praticamente todo dissertativo, o professor me disse:

- Você tem alguns problemas na escrita. Principalmente na hora de conectar os parágrafos, eles não têm nexo algumas vezes.

Já para minha amiga, ele virou e disse que gostou muito de ler seu texto. Aquele era o nosso PRIMEIRO trabalho acadêmico. Fiquei com aquilo na cabeça. Nada demais sobre minha dissertação, eu sempre tive muitos problemas em relacionar parágrafos – a fofa da plantonista de redação no cursinho que o diga, ficava horas comigo, corrigindo textos e mais textos, aguentando minhas lamentações –, mas passei a acreditar que minha forma de escrever era inferior a de muitas outras pessoas, principalmente por ouvir, anos a fio, de vários professores que não sabia escrever ou analisar uma fonte (em História, falando bem grosseiramente pra vocês entenderem, temos que pegar documentos e coisas da época que estamos pesquisando e partir dali pra fazer a análise. Fonte, para nós, é esse “documento velho” que a gente lê e relê 400 mil vezes).

Tudo isso, até hoje.

Devido à greve (eeeeee! o/), minha faculdade ficou dois meses sem aula. Resultado: estamos tendo reposição e provas finais AGORA, quando todos estão voltando descansados das férias. Hoje na aula, recebi meu memorial corrigido e comentado. O trabalho consistia, basicamente, em contar suas memórias, qual foi a sua relação com a literatura (e aqui o professor entende literatura como vários tipos de livros, não só os clássicos), qual o peso dela na sua vida, etc, etc. De certa maneira, é complicado fazer isso. Afinal de contas, você tem que contar tudo aquilo que viveu e dar um "sentido", refletir sobre suas próprias ações - que nem sempre foram escolhas "escolhidas" por você. Mas, para minha surpresa, logo na capa, tinha um pequeno comentário que dizia “gostei muito do seu texto!”. Ao logo de parágrafo das 8 páginas que escrevi, brotaram vários recadinhos nos cantos: “interessante!”, “boa análise”, “ótima reflexão”, “eu também li esse livro no ensino fundamental”, “entendo o que quer dizer, acho importante esse ponto de vista”, e coisas do gênero.

A nota final? O trabalho valia 5, e...bom. Tirei 5. Com um comentário na ultima página: “Gostei de ler seu memorial, sua pesquisa para explicar as obras. O texto também está muito bem escrito”.

Tá, eu confesso. Meus olhos encheram de água. Um comentário bobinho, simples e discreto. Que me deixou feliz até agora.

Tudo depende do ponto de vista como você olha a coisa. Não, eu não sou a nova Machado de Assis, mas como aspirante a professora, percebi o quanto temos que tomar cuidado com o dizemos na relação de ensino-aprendizagem para alguém. Um simples comentário bobinho pode construir ou acabar com o sonho de uma pessoa que está dando seus primeiros passos rumo algum lugar.

Um mero recadinho bobinho. E provocou tudo isso em mim. ORA, BOLHAS! Afinal de contas, o que é “não saber” escrever??

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